quarta-feira, 25 de julho de 2012

A corrida das mulheres que não conseguem engravidar


Já tenho feito esta reflexão mais vezes e cada vez me convenço mais que as mentalidades só mudam nas novas gerações. Só mudam quando nos predispusermos a "perder" tempo a formar novas mentalidades, e isso só é possível com as crianças.

A minha sobrinha teve uma evolução gradual e acompanhou desde sempre esta doença, bem como o seu sonho de ter primas.

Aos 3 anos logo após o meu casamento pediu uma mana à tia. Lá lhe expliquei que as tias dão primas e não manas. "Isso tia, quero uma "pima"".
O tempo foi passando e nada de primas, aliás ficámos um ano a aproveitar o casamento. Mas na cabeça dela o tempo rolava e um dia perguntou: "tia mas tu não gostas de crianças???Não queres ter bebés?" Como é que era possível dar-me tão bem com ela e não gostar de crianças? Ela estava incrédula.
Mais tarde percebeu que a tia tinha ido ao médico para ter bebés: "Oh tia tu és tão boa para as crianças..."
Com 7 anos a mãe engravida e ela acha que devia ter sido a tia.
Com 8 vem passar uns dias à casa da tia, vai a um dos meus lanches e percebe que muitas daquelas senhoras querem ter filhos e não conseguem, mas outras...outras foram com os filhos: "Tia mas se elas conseguiram tu também vais conseguir".
Viu-me dar picas.
Aprendeu na escola o que era o aparelho reprodutor e eu falei-lhe de má qualidade de óvulos e de espermatozóides. Sentiu-se crescida por lhe ter explicado tudo. Já sem usarmos o termo das sementinhas.
Aos 10 anos foi comigo à caminhada da fertilidade. Já sabia quem eram aquelas pessoas e porque caminhávamos. Gostou.

Aos 11 anos, com a prima ao colo pergunta-me: tia tu este ano não vais à corrida das mulheres que não conseguem engravidar?
Lá lhe expliquei que a caminhada já tinha sido, e que por a Helena ser muito pequena não tinha dado para ir.

"Tia para o próximo ano tens de ir, para as mulheres que querem ter filhos verem que já conseguiste e ficarem contentes".

Fiquei sem palavras.
Retive duas coisas: está vaidosa com a prima e quer mostrá-la ao mundo mas percebe, ainda que à sua maneira, a importância que esta doença tem na minha vida e como a partilha das alegrias pode fazer tanto por quem ainda não chegou lá.

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