Casei em 2004, desconfiámos de
infertilidade em 2005, tivemos certezas em 2006 e iniciámos o primeiro
tratamento em 2007.
Neste período tive dois chefes, e quando as desculpas esfarrapadas “ainda é
cedo”, “temos muito tempo”, “estamos a aproveitar a vida” ou “ainda me estou a
adaptar a esta cidade” deixaram de fazer sentido fui aos poucos falando de
infertilidade.
Vivemos com muita gente por perto,
trabalhamos de forma interligada com imensa gente, e aos poucos colegas e
chefes souberam da minha luta.
Em 2008 fiz 3 tratamentos, um em
2009 que me deu o derradeiro negativo e alta do Santo António. O meu chefe da
altura ao ver-me chegar ao trabalho achou que era positivo, vinha todo contente
ter comigo e levou com uma choradeira.
Homem da idade do meu pai, com
filhas mais novas que eu ficou sem saber o que fazer.
Em 2010 reformou-se, em 2011
engravidei, 2012 fui mãe, e hoje voltei a vê-lo.
Perguntou-me pela minha menina.
Mostrei-lhe foto e duas pequenitas lágrimas
surgiram: “ai Angélica, tão bonita, muitos parabéns”. Outros colegas estavam
presentes e não disse mais nada, brincou com o feitio da filha ser como o da mãe,
e quando nos despedimos fez-me uma festinha no braço.
Fez dia 29 de outubro cinco anos que
lhe pedi um dia de férias. Fiz parte duma manifestação junto da assembleia da
república para que promessas feitas aos casais inférteis fossem cumpridas, e
sem o contar apareci nas notícias.
No dia seguinte fui ter com ele, a
explicar a situação. Não tinha visto nada, mas várias pessoas comentaram o que
viram e mostraram-se surpreendidas.
No final disse-me: se acredita que
isso a pode ajudar lute.
Claro que sei que quem nos quer bem
alegra-se connosco, mas fiquei sensibilizada.
Hoje foi quase como saborear um
pouco da minha vitória.
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