quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Os outros e a nossa infertilidade

Casei em 2004, desconfiámos de infertilidade em 2005, tivemos certezas em 2006 e iniciámos o primeiro tratamento em 2007.
Neste período tive dois chefes, e quando as desculpas esfarrapadas “ainda é cedo”, “temos muito tempo”, “estamos a aproveitar a vida” ou “ainda me estou a adaptar a esta cidade” deixaram de fazer sentido fui aos poucos falando de infertilidade.


Vivemos com muita gente por perto, trabalhamos de forma interligada com imensa gente, e aos poucos colegas e chefes souberam da minha luta.

Em 2008 fiz 3 tratamentos, um em 2009 que me deu o derradeiro negativo e alta do Santo António. O meu chefe da altura ao ver-me chegar ao trabalho achou que era positivo, vinha todo contente ter comigo e levou com uma choradeira.
Homem da idade do meu pai, com filhas mais novas que eu ficou sem saber o que fazer.

Em 2010 reformou-se, em 2011 engravidei, 2012 fui mãe, e hoje voltei a vê-lo.
Perguntou-me pela minha menina.
Mostrei-lhe foto e duas pequenitas lágrimas surgiram: “ai Angélica, tão bonita, muitos parabéns”. Outros colegas estavam presentes e não disse mais nada, brincou com o feitio da filha ser como o da mãe, e quando nos despedimos fez-me uma festinha no braço.

Fez dia 29 de outubro cinco anos que lhe pedi um dia de férias. Fiz parte duma manifestação junto da assembleia da república para que promessas feitas aos casais inférteis fossem cumpridas, e sem o contar apareci nas notícias.
No dia seguinte fui ter com ele, a explicar a situação. Não tinha visto nada, mas várias pessoas comentaram o que viram e mostraram-se surpreendidas.
No final disse-me: se acredita que isso a pode ajudar lute.

Claro que sei que quem nos quer bem alegra-se connosco, mas fiquei sensibilizada.

Hoje foi quase como saborear um pouco da minha vitória.

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